O que são e como funcionam os créditos de carbono?
- Via Online Consultas

- 26 de ago.
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Atualizado: 10 de nov.
O crédito de carbono é um método criado visando reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera. Confira o conteúdo completo aqui!

O volume de créditos de carbono negociados no Brasil atingiu R$ 453 milhões em 2022, resultado de 7,3 milhões de toneladas emitidas — um salto de 25% em um ano. Entenda como esse sistema funciona, quem pode vender e qual o potencial da agricultura de baixo carbono.
A adoção desse tipo de financiamento tem crescido entre produtores e empresas do setor que desejam alinhar sua atuação às boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Quando bem estruturados, os títulos verdes ajudam a viabilizar investimentos em sustentabilidade e aumentam o acesso a mercados que valorizam práticas responsáveis, fatores cada vez mais relevantes em políticas públicas e agendas regulatórias.
Mas você sabe como funciona o mercado de créditos de carbono ou a sua relação com o agronegócio? Diversas práticas estão sendo implementadas no setor para obter melhores resultados, como a agricultura regenerativa. Continue com a Serasa Experian e confira esse conteúdo completo que preparamos sobre o assunto. Confira!
O que são créditos de carbono?
O conceito de crédito de carbono surgiu como uma forma de mitigar os impactos das mudanças climáticas e fomentar o equilíbrio ambiental por meio de mecanismos financeiros. A ideia ganhou força a partir do Protocolo de Kyoto, tratado internacional firmado em 1997 e em vigor desde 2005, que estabeleceu metas de redução das emissões de gases de efeito estufa para países industrializados.
Nesse contexto, foi criado um sistema de compensação que permitia a comercialização de permissões de emissão entre países e empresas, dando origem ao mercado de carbono.
Cada crédito de carbono representa uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera por meio de ações de conservação, reflorestamento ou tecnologias de captura. Ao permitir que emissores compensem suas emissões comprando créditos de quem consegue evitá-las, esse mecanismo passou a atrair a atenção de diferentes setores da economia.
A dinâmica conecta diretamente a preservação ambiental à lógica de mercado, estimulando práticas sustentáveis com retorno financeiro. No agronegócio, essa abordagem tem ganhado relevância crescente, sobretudo com a ampliação das discussões sobre governança ambiental, responsabilidade social e metas climáticas.
Qual é a diferença entre neutralização e compensação de carbono?
A distinção entre neutralização e compensação de carbono é relevante especialmente para empresas que desejam definir estratégias ambientais claras e mensuráveis. A compensação ocorre quando uma organização continua emitindo gases de efeito estufa, mas compra créditos de carbono equivalentes para equilibrar suas emissões. É uma forma de “pagar” por não ter evitado as emissões diretamente.
Já a neutralização envolve ações internas para reduzir ou eliminar as emissões na fonte. Isso inclui a substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis, melhorias em processos logísticos ou mudanças tecnológicas que cortam diretamente a geração de CO₂. A neutralização, portanto, é uma estratégia voltada à transformação estrutural das operações, enquanto a compensação é uma forma de lidar com as emissões residuais ou inevitáveis.
Para organizações comprometidas com boas práticas ESG, entender essa diferença é fundamental para alinhar seus relatórios de sustentabilidade às metas globais de descarbonização e para evitar o chamado greenwashing, quando há inconsistência entre discurso e prática.
Como é gerado um crédito de carbono na prática?
Basicamente, um crédito de carbono é equivalente a uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂). Quando essa quantidade deixa de ser emitida no meio ambiente ou é capturada na atmosfera, o crédito é gerado.
Mas é importante ressaltar que, para isso acontecer, a organização deve trocar ações que geram a emissão do gás por fontes renováveis e mais sustentáveis. Para facilitar o entendimento, vamos dar um exemplo:
Na agricultura, os créditos de carbono podem ser gerados por meio de práticas sustentáveis adotadas. Isso inclui o manejo de resíduos orgânicos e de rebanhos de forma mais eficiente, bem como a utilização de biocombustíveis para evitar a emissão de gases que causam o efeito estufa.
Para isso, é muito importante ressaltar que deve ser realizado um monitoramento contínuo das propriedades agrícolas, pois só assim é possível compreender se o local realmente está investindo em práticas mais sustentáveis. Nesse caso, existem várias ferramentas que podem ser implementadas para facilitar esse processo, como o Smart ESG da Serasa Experian.
Projetos elegíveis para gerar créditos
Podem gerar créditos de carbono projetos em diversas áreas que comprovem a redução ou remoção de emissões de gases de efeito estufa. Os principais tipos incluem:
Setor | Exemplos de Projetos e Práticas |
Projetos florestais | REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), reflorestamento, conservação de áreas nativas. |
Energias renováveis | Energia eólica, solar, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). |
Agricultura e pecuária de baixo carbono | Práticas regenerativas, uso racional de insumos, técnicas que melhoram a digestão animal e reduzem emissões de metano. |
Gestão de resíduos | Compostagem, uso de biodigestores, reaproveitamento de resíduos e tecnologias que evitam a liberação de metano na atmosfera. |
Esses projetos devem seguir metodologias robustas para quantificação das emissões evitadas, e só então podem ser submetidos à certificação.
Como são mensuradas as emissões evitadas pelo crédito de carbono?
A mensuração parte da definição de uma linha de base, uma projeção de quanto seria emitido de CO₂ se a atividade sustentável não fosse implementada. A partir dessa estimativa, são comparados os dados reais obtidos com o projeto.
Para isso, utilizam-se metodologias reconhecidas por organismos internacionais, como o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e as normas do GHG Protocol. A mensuração envolve o uso de sensores, imagens de satélite, inventários de emissões, dados meteorológicos e até modelagens específicas para cada tipo de projeto.
É essa quantificação transparente e técnica que embasa a emissão dos créditos e sua posterior negociação em mercados voluntários ou regulados.
Entidades certificadoras e verificadoras
A credibilidade dos créditos de carbono depende diretamente das entidades que validam e certificam os projetos. As principais instituições internacionais incluem:
Padrão de Certificação | Descrição |
Verra (VCS) | Responsável pelo Verified Carbon Standard, um dos padrões mais utilizados globalmente. |
Gold Standard | Foca na redução de carbono com benefícios sociais e ambientais adicionais. |
Clean Development Mechanism (CDM) | Mecanismo da ONU criado dentro do Protocolo de Kyoto para promover projetos de desenvolvimento limpo. |
Plan Vivo e Climate Action Reserve | Atuam com foco em regiões ou áreas específicas, como comunidades locais e florestas. |
Essas entidades auditam dados, aplicam metodologias, revisam relatórios e validam se o projeto está apto a emitir créditos. A certificação por terceiros é uma etapa obrigatória para que os créditos possam ser reconhecidos e comercializados.
Qual é a importância de auditoria e rastreabilidade do crédito de carbono?
A rastreabilidade dos créditos é um ponto central para evitar fraudes, duplas contagens ou greenwashing. Cada crédito deve ser único, vinculado a um projeto específico, com data de emissão, localização geográfica e informações públicas sobre sua origem e status de aposentadoria (uso).
Além disso, as auditorias periódicas feitas por verificadores independentes garantem que os dados apresentados sejam reais, atualizados e compatíveis com os resultados esperados. Sem essa estrutura de controle, o mercado de carbono perde credibilidade e utilidade.
Empresas que desejam incorporar créditos de carbono em suas estratégias ESG devem priorizar plataformas que ofereçam transparência total sobre a origem e validade dos créditos adquiridos. Soluções como o Smart ESG da Serasa Experian ajudam a integrar rastreabilidade com dados financeiros e reputacionais, contribuindo para uma agenda climática sólida e confiável.
Como os créditos de carbono são comercializados?
Conforme comentado nos outros tópicos, o crédito de carbono é gerado a cada tonelada de carbono que deixa de ser emitida na atmosfera. Por isso, tornou-se uma ferramenta usada por empresas e governos para reduzir os impactos causados por gases de efeito estufa (GEE).
Empresas interessadas em compensar suas emissões podem adquirir créditos de carbono por meio de plataformas especializadas, intermediários ou diretamente de quem promove a captura ou redução de emissões — como projetos florestais ou agroindustriais.
O agronegócio, nesse cenário, ganha protagonismo, já que produtores rurais podem ser remunerados por práticas que contribuem para a remoção de CO₂ da atmosfera, desde que essas ações sejam certificadas por entidades reconhecidas.
A comercialização pode ocorrer de forma direta (entre comprador e vendedor) ou via mercado secundário, por meio de bolsas e plataformas regulamentadas.
Primeiro: diferença entre mercado voluntário e mercado regulado
O mercado regulado é instituído por políticas públicas e leis que obrigam certos setores a reduzir suas emissões, como o Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia (EU ETS). Nesse modelo, há limites legais de emissões e exigência de compra de créditos caso esses limites sejam ultrapassados.
Já o mercado voluntário funciona à parte das regulamentações governamentais. Nele, empresas e indivíduos decidem, por iniciativa própria, compensar suas emissões — seja por compromissos ambientais, reputacionais ou exigências de parceiros de negócio. Essa flexibilidade permite maior variedade de projetos, mas também exige atenção à credibilidade das certificações envolvidas.
Como funciona a venda de créditos por empresas rurais e agroindústrias?
Empresas rurais e agroindústrias que adotam práticas sustentáveis, como reflorestamento, conservação de vegetação nativa ou manejo de solo com baixa emissão, podem gerar créditos de carbono, 9 a cada 10 produtores já seguem esses critérios ESG.
Para isso, precisam seguir critérios técnicos e passar por processos de validação, verificação e certificação realizados por organismos reconhecidos internacionalmente, como VCS (Verified Carbon Standard) ou Gold Standard.
Uma vez certificado, o projeto recebe uma quantidade determinada de créditos, proporcional ao carbono que deixou de ser emitido ou que foi removido da atmosfera. Esses créditos podem então ser comercializados, gerando receita adicional para os produtores.
Plataformas e bolsas onde os créditos podem ser negociados
A comercialização dos créditos pode acontecer por meio de contratos diretos ou em plataformas especializadas, como:
Plataforma / Bolsa de Créditos | Descrição |
B3 (Brasil) | Oferece infraestrutura para negociação de ativos ambientais via CBIOS e, futuramente, créditos de carbono. |
AirCarbon Exchange (ACX) | Bolsa digital com sede em Singapura, voltada ao comércio de créditos no mercado voluntário. |
Climate Impact X (CIX) | Plataforma de Singapura que combina leilões, negociações spot e soluções digitais. |
Toucan Protocol e KlimaDAO | Iniciativas descentralizadas baseadas em blockchain para tokenização de créditos de carbono. |
European Union Emissions Trading Scheme (EU ETS) | Principal mercado regulado de carbono da Europa. |
Chicago Climate Exchange (CCX) | Operou como bolsa voluntária nos EUA até 2010; outras instituições assumiram seu papel desde então. |
A escolha da plataforma depende do tipo de crédito, certificadora, mercado (voluntário ou regulado) e objetivos do vendedor.
Precificação dos créditos e fatores que influenciam o valor de mercado
O valor de um crédito de carbono pode variar bastante, dependendo de fatores como: tipo de projeto (florestal, energia renovável, agricultura de baixo carbono, etc.); localização geográfica; certificadora envolvida; condições de oferta e demanda no momento da negociação; benefícios ambientais e sociais agregados ao projeto (co-benefícios); confiança no monitoramento e verificação dos resultados obtidos.
No mercado regulado, o preço costuma ser mais alto, pois está vinculado a exigências legais. Já no mercado voluntário, há maior diversidade de preços, com negociações que podem variar de US$ 2 a mais de US$ 50 por crédito, dependendo da reputação do projeto e da plataforma onde ocorre a venda.
Quais são as vantagens e desvantagens do crédito de carbono?
O mercado de crédito de carbono pode proporcionar diversos benefícios para o mercado de crédito rural, os agronegócios, empresas e, claro, principalmente para o meio ambiente. Apesar disso, alguns estudiosos defendem a existência de desvantagens. Continue lendo para saber quais são:
Vantagens | Desvantagens |
Países subdesenvolvidos podem comprar créditos de carbono para reduzir seus débitos. | Uma vez que o crédito de carbono pode ser comprado, alguns países podem aumentar o nível de emissão de gases poluentes. |
A adoção de atitudes mais sustentáveis proporciona uma redução da emissão de gases que causam o efeito estufa, auxiliando na luta contra o aquecimento global. | Os países subdesenvolvidos que compram os créditos de carbono podem se sentir com a liberdade de poluir. |
Os países que utilizam o crédito de carbono de forma consciente podem desenvolver projetos sustentáveis que valorizem o território nacional e fortaleçam a economia devido à comercialização do crédito de carbono. | A economia dos países em desenvolvimento pode ser afetada pela compra descontrolada de créditos de carbono para reduzir débitos. |
Organizações que investem ou concedem crédito para produtores rurais que geram crédito de carbono tendem a ser mais bem vistas pela sociedade. | Caso o crédito de carbono se torne muito popular entre os países, ele pode começar a ser supervalorizado, apresentando altos valores que dificultam as negociações comerciais. |
Em ambientes regulados, como o europeu, também há benefícios fiscais e cumprimento de metas legais. | A ausência de regras padronizadas em mercados voluntários pode afetar a transparência e a confiança nessas transações. |
Adotar medidas sustentáveis fortalece a reputação da marca e pode atrair investidores, consumidores e parceiros de negócios mais atentos a critérios ESG. | O greenwashing — quando empresas usam a compra de créditos como estratégia de marketing, sem realmente reduzir suas emissões. |




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